08 fevereiro 2012

Fukanzazengi - 51º Comentário de Coupey

Sinceros praticantes Zen, não fiquem nem um pouco surpresos por um dragão de verdade, ou gastem muito tempo inutilmente apalpando apenas uma pequena parte do elefante.

Não gastem muito tempo inutilmente apalpando apenas uma pequena parte do elefante. Mestre Dogen faz aqui uma alusão a uma história contada no Sutra do Nirvana sobre as diferentes formas do elefante.
Um rei traz um elefante para junto de um grupo de cegos e deixa que o apalpem. Pede, em seguida, que descrevam o que acreditaram sentir. As respostas obtidas são muito variadas. Um pensa que sua tromba era um cano para água. Outro, que sua orelha era um grande leque; um outro, que sua perna era um pilar; um outro, que seu dorso era um trono etc. Cada um percebeu apenas a parte que havia tocado. E essas respostas, todas bastante diferentes, são, ao cabo, sinal de uma experiência pessoal bem limitada, ou simplesmente comum. Não é o olho do Caminho que enxergou, mas a palma da mão que interpretou. E com a palma não se alcança a totalidade do elefante.
Essa história representa a mente comum e não a mente do olho mais elevado, o olho de buda - e a diferença é grande entre o olho de Buda e o olho da mente comum. Dizemos sempre que não há diferença, mas não nos esqueçamos da diferença, e assim poderemos deixar cair o olho comum e enxergarmos através do olho do despertar.

Assim, Dogen falando a seus discípulos lhes diz: "Não fiquem nem um pouco surpresos por um dragão de verdade, ou gastem muito tempo inutilmente apalpando apenas uma pequena parte do elefante". Não temamos o dragão exterior, nem os demônios interiores. Se voltarmos nossos olhares para nós mesmos e olharmos lá onde nosso coração encontra-se na sombra (como o elefante no escuro), podemos iluminar nossa escuridão pessoal. Cada um de nós tem pontos de sombra. A maior parte das pessoas os evita. Mas nosso trabalho nessa prática não é evitá-los, tampouco analisá-los - não estamos no médico, estamos onde é preciso ter coragem de caminhar. Para cortar com nosso passado, com nosso futuro. Então não passaremos o resto de nossas vidas sem jamais esclarecer nossas mentes e, desse modo, todas as mentes.

Muitas vezes me coloquei essa questão: como enxergar os pontos de sombra no interior de nossos corações? Eu me impus essa coisa, esse "trabalho", observando-me diretamente. E acabei por me dizer que isso era impossível ou, pelo menos, muito difícil. Ao tentar verdadeiramente enxergar meus cantos negros, escuros, compreendi que isso queria simplesmente dizer tornar-me íntimo comigo mesmo. É pela intimidade com nós mesmos que é zazen, que podemos encontrar o verdadeiro eu, que não é nosso pequeno ego, aquele que exclui o outro, mas aquele eu que tudo abarca. Não tenhamos medo de olhar sob uma ótica mais elevada, a partir de uma visão mais ampla, cada coisa que encontrarmos, cada pessoa com a qual nos relacionarmos e também com cada objeto senciente ou não senciente.

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